quarta-feira, 12 de março de 2014

O Liberalismo sob vitória e ameaça de implosão

"Em 1991 quando a URSS, último oponente do liberalismo ocidental, caiu, alguns ocidentais (como Fukuyama) proclamaram o Fim da História. Muito logicamente: não havia mais inimigo explícito da sociedade aberta - assim não havia mais história, que foi durante a Modernidade precisamente a luta entre as três ideologias políticas (liberalismo, comunismo e fascismo) pela herança do Iluminismo. Estrategicamente, assim começa o momento unipolar (Ch. Krauthammer). Esse período de 1991 a 2014, com ponto médio no ataque de Bin Laden ao World Trade Center - foi efetivamente o período de dominação global do liberalismo. Os axiomas do liberalismo foram aceitos pelos principais atores geopolíticos - incluindo China (na economia) e Rússia (na ideologia, economia e sistema político). Havia apenas liberais e quase-liberais, não-ainda liberais, liberais não-suficientemente-liberais e daí em diante. As exceções reais e explícitas eram poucas (Irã, Coréia do Norte). Assim, o mundo se tornou liberal, a nível ideológico e axiomático.

Esse foi precisamente o momento mais importante na história do liberalismo. Ele derrotou seus inimigos, mas ao mesmo tempo os perdeu. O liberalismo é essencialmente a liberação, a luta contra o que não é liberal (ainda ou de forma alguma). Assim, o liberalismo adquiriu de seus inimigos o seu sentido real, seu conteúdo. Quando a escolha é não-liberdade (representada na sociedade totalitária concreta) ou liberdade muitos escolhem liberdade, sem refletir pelo quê ou para fazer o quê é essa liberdade. Quando existe a sociedade não-liberal o liberalismo é positivo. Ele começa a mostrar sua essência negativa apenas após a vitória.

Após a vitória de 1991, o liberalismo avançou para sua fase implosiva. Depois de ter derrotado o comunismo bem como o fascismo ele estava sozinho. Sem inimigo para combater. E este era o momento para iniciar o combate interno, o expurgo liberal das sociedades liberais, tentando exterminar os últimos elementos não-liberais - sexismo, politicamente incorreto, desigualdade entre sexos, quaisquer resquícios de dimensão não-individual em instituições como Estado, Igreja e daí em diante. Assim, o liberalismo precisa de inimigos dos quais liberar. Do contrário, ele perde seu conteúdo, seu niilismo implícito se torna muito saliente. O triunfo absoluto do liberalismo é sua morte.

Esse é o sentido ideológico da crise financeira do início do novo milênio e de 2008. Os sucessos e não as falhas da nova economia puramente financeira (do turbocapitalismo segundo G. Lytwak) são responsáveis por seu colapso. A liberdade para fazer qualquer coisa que você quiser, mas apenas em escala individual, provoca implosão da personalidade. O humano passa ao reino infra-humano, a domínios sub-individuais. E aqui ele encontra a virtualidade. Como sonho sub-individual, a liberdade de tudo. Isso é a evaporação do humano. O Império do nada como a última palavra da vitória total do liberalismo. O pós-modernismo prepara o terreno para essa reciclagem pós-histórica auto-referencial do sem-sentido."

Trecho de artigo : http://legio-victrix.blogspot.com.br/2014/03/aleksandr-dugin-guerra-vindoura-como.html?spref=fb



Alexandr Dugin

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