Opnião - Rafael Scovino Silva
O debate sobre a homossexualidade no mundo é com certeza um dos mais
cheios de intolerância e equívocos da atualidade. De ambos os lados.
Eu particularmente sei muito bem oque critico no "mundo LGBT". A
homossexualidade sempre existiu, agora o protótipo do "homossexual
moderno" não; isso é fruto desta era tal como "a juventude moderna, a
música moderna, a economia moderna, etc."
O conservadorismo vem
partindo da crítica não da "homossexualidade moderna" e de seu
comportamento que consideram "promíscuo" fruto da mentalidade liberal,
mais da crítica a própia condição da homossexualidade partindo de duas
premissas equivocadas : a de que a homossexualidade é uma construção
cultural e não uma condição natural e de que existe somente um tipo, um
meio de alguém se assumir como homossexual.
Aí se confunde. Se a
homossexualidade fosse fruto de culturas libertárias como existiu em
todas as culturas, em todos os tempos e com diferentes expressões ? Se
analisa com anacronismo histórico a condição do comportamento do dito
"homossexual moderno". E o mesmo vejo fazendo o movimento LGBT como se
os homossexuais pela história tivessem os mesmos valores e anseios dos
de nossos tempos e fosse tudo apenas o "culminar de uma luta histórica" e
não fruto da cultura moderna e pós-moderna.
É impressionante também
como muitos "machões" diagnosticam a homossexualidade como simples
"fator cultural" se sequer homossexuais são para se autoconhecer e ter
senso racional e de vivência para julgamento e como muitos que celebram a
"diversidade" vem falar em "sexualidade mutável" contrariando o própio
senso de diversidade e sua própia natureza e por fim também caindo no
erro de designar a homossexualidade como fator cultural e não natural.
Lógico que há fatores culturais que incentivam ou reprimem a
homossexualidade e os que inclusive geram confusões sobre o própio
conceito de "sexualidade". Este último é o agente moderno.
Pessoas
podem ter e/ou assumir "comportamentos homossexuais" sem serem
homossexuais e estas precisam de ajuda no entender da própia
sexualidade.
Assim como proibir ou reprimir a homossexualidade
de nada impede nascerem homossexuais por fatores naturais e pior impede é
o entendimento da questão e jogam a pessoa em uma crise existencial
aonde só pode seguir dois caminhos auto-destrutivos : ou destruir sua
identidade ou se afastar da identidade de seu grupo em busca de outra
que o acolha e tente compreende-lo.
Assim, tornar a homossexualidade
"um tabu" foi justo oque a "jogou nos braços" da cultura liberal,
moderna e de modelo anglo-saxão.
A própia demanda, quando sincera,
do "casamento gay" apesar de ser uma tentativa de "reformular o estilo
tradicional de família" é justo uma tentativa desesperada de "busca da
tradição", de estar incluído no mesmo "modelo tradicional de família".O
homossexual que busca sinceramente o "casamento gay" é por si própio um
romântico e só nisso é oposto ao modelo de "homossexual moderno" que
prega o hedonismo e a multiplicidade de parceiros.
O erro perigoso
aí vem da ignorância e não de sua convicção plena de "combater o modelo
de família tradicional" pois a cultura liberal e em parte também a
marxista o deram um conceito errado do que vem a ser "Tradição".Mais os
primeiros a distorcer oque é tradição foram justo os conservadores...
Quando deturparam a hierarquia de diferentes funções complementares a
"funções elevadas e funções subalternas", quando distorceram a tradição
que é a melhor maneira de se adaptar social, cultural e territorialmente
a determinado terreno e manter a coesão e a unidade do grupo em
"conservar" uma ordem de privilégios e de exclusão...
Nada mais "anti-tradicional" que o conservadorismo cego ! O "conservadorismo liberal" está aí para prova-lo.
Enfim, quando os monarcas se tornaram tiranos, a tradição se perdeu.
Assim, o homossexual hoje pouco compreende que oque ele chama de
"família tradicional" apesar de todas as corruptelas pelo machismo, pelo
racismo e pelo elitismo não é uma simples "construção cultural fruto de
uma mentalidade opressora" mais "a melhor maneira encontrada para
perpetuar, proteger e acolher a humanidade em seus diversos póvos e
expressões em determinados territórios".Assim combater a "família
tradicional" é combater a própia organização de sobrevivência da
humanidade ! É esse o perigo da questão do "casamento gay" e não o
simples fato de uma minoria casar-se.
De outro modo não é o "casamento gay" que está "destruindo a família".
O própio machismo começou esta destruição do mesmo modo que transformou
"o monarca em tirano" transformou o "cabeça da família no ditador da
casa".
As causas recentes da "destruição da família" estão no
desemprego estrutural, no emprego precário, do monopólio da renda e da
produção nas mãos de poucos jogando os demais "ao relento". São
condições materiais práticas que levaram a desestruturação familiar e a
sua posterior contestação.
Mais houve sim um fator "cultural" que
deu início a toda a "destruição da família", foi justo a separação da
"família" do "núcleo maior" do grupo, da tribo, da nacionalidade, da
humanidade em conjunto. Quando "a família" e não mais o "grupo
identitário" teve que correr sozinha atrás de seu sustento e bem-estar
tendo os demais como "competidores" e não como tradicionalmente
"ajudadores" perdeu-se o sentido de coesão, de unidade. Seguida esta
tendência sair da desestruturação do grupo para a da família era apenas
questão de tempo e caminho inevitável.
Assim, o verdadeiro
tradicionalista lutar contra a "destruição da família" no campo cultural
sem combate-la no campo econômico, no material é tratar das
consequências e não da causa, é como "enxugar gelo".
Assim
voltando ao tema inicial tanto a criminalização da homossexualidade
quanto o casamento gay no combate a "família tradicional" são erros
crassos que aprofundam um problema muito maior que é a busca da harmonia
da humanidade.
A homossexualidade assim está longe de ser
anti-natural ou prejudicial a sociedade pois sempre fez parte desta, as
condições de cada lugar e época é que diferem.
Do mesmo modo a
homossexualidade é uma condição minoritária e por si só fora de um
contexto da modernidade é inofensiva e não usada no mesmo patamar da
heterossexualidade que é a condição amplamente majoritária.
A
homossexualidade assim se apresenta na história como uma "condição
minoritária e a certo ponto complementar as funções exercidas pela
heterossexualidade e não sua inimiga".Não tendo como obrigatória a
função da procriação, o homossexual pode ajudar "o mundo hétero" desde o
cuidar das crianças, até nas artes e na própia reflexão espiritual !
Não tratamos aqui do "sentido teológico" de se a homossexualidade "é ou
não pecado" mais de sua inserção real na história e lembremos que pela
maioria dos textos religiosos nosso mundo é imperfeito e pecador desde
"a queda do Éden". Então tenhamos se não aceitação, a compreensão da
natureza da homossexualidade.
Na questão da homossexualidade é muito
tolo tratar de atuar na natureza do ser humano, mais vital atuar no
aspecto cultural ainda mais quando esta cultura vai contra o própio
exercer sadio da sexualidade humana !
Nem castração, nem
libertinagem são expressões saudáveis da sexualidade e isso para muito
além do aspecto físico mais para o afetivo, o emocional e mesmo o
transcedental.
Adotar uma ou outra postura por vezes por motivos
religiosos vai muito da maneira da pessoa lidar com sua sexualidade e é
um "caminho de poucos" e não o "padrão majoritário".
O mapa que
ilustra este texto mostra diversas maneiras de se encarar a
homossexualidade nos dias de hoje e vemos justo a polarização avançando
nos extremos ou criminalizando ou a enaltecendo em combate ao "modelo
tradicional de família".Não a toa, os dois caminhos equivocados e que se
alimentam um a outro como "causa e efeito, ação e reação".
Mais
observemos que na maioria dos países do mundo não há "legislação sobre o
tema", oque óbvio não indica que nelas não existam homossexuais, apenas
que a discussão não veio a tona seja pela exclusão dos homossexuais,
seja por estarem a seu modo "adaptados e inseridos" nestas sociedades,
muitos inclusive com parceiros morando sob o mesmo teto, mais não em
confronto com o "modelo tradicional de família", tal qual reivindicações
como o "casamento gay" os "parecerem alienígenas".Ao mesmo tempo
precisam de "segurança jurídica" para terem garantidos no futuro
direitos que hoje são garantidos apenas por "aspecto cultural" como
herança, patrimônio e os de uma vida em comum em geral.
São justo
destas nações que podem sair "linguagens diferentes" da velha e nociva
dicotomia conservadores versus liberais para a questão da
homossexualidade e da sexualidade em geral !
O tempo urge e é
responsabilidade de todos encontrar meios de cada nação lidar com a
homossexualidade, nem a invisibilizando, nem enaltecendo.
E óbvio
que cada lugar deve ter seu própio modelo para tal pois ali se insere em
determinado modo de viver fruto da adaptabilidade ao terreno e a coesão
social.Oque não dá é manter a "coesão social" excluindo ou usando um
determinado grupo para "fora ou além dela"; ainda mais um grupo que a
história já mostrou poder ser extremamente positivo e complementar na
coesão social !
Comparar ou confundir homossexualidade com
pedofilia ou zoofilia é o mesmo que confundir heterossexualidade com os
mesmos, ou também não há ali pedófilos e zoófilos ? A diferença é a
maturidade afetiva e o livre arbítrio em relações de mútuo acordo com
pessoas adultas que sabem muito bem oque estão fazendo e compreendem
seus impulsos e desejos sabendo de seus prazeres,necessidades e de seus
limites.
É hora de acordar e decidir se vamos tratar de
aspectos culturais e aí possíveis de discussão e mudança ou se vamos
tratar da natureza das pessoas, esta não importa se "proibida ou
cultuada"-imutável e suas possibilidades de atuarem harmônica ou
nocivamente em seu meio social.
O debate da maneira e no tom que vem
sendo levados em sua maioria é completamente destrutivo pois coloca o
dilema de excluir um grupo social inteiro com meios de se inserir de
modo positivo em cada cultura ou a destruição de um modelo familiar que é
base para o própio desenvolvimento saudável da humanidade !
As duas opções são negativas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário