quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Os projetos imperiais em disputa Europa-Oriente Médio

As crises na Europa e no Oriente Médio & Norte da Àfrica possuem um componente que vai além dos habituais interesses imperialistas de colonialismo e "mudança de regime", por diversos componentes se fazem em construções de verdadeiros "impérios expansionistas literais".
O projeto que se iniciou com a Comunidade Européia e culminou na atual União Européia já demonstrou claramente seu caráter autoritário e imperialista no saque das nações mais pobres via receituário neoliberal, na superestrutura que retira as soberanias nacionais entregando o poder a uma elite econômico-burocrática não eleita por ninguém e sua simbiose com o projeto dos EUA que a utiliza, incluso via OTAN para confrontar e isolar a Rússia e manter o projeto hegemônico estadounidense.
A crise do Maidan ucraniano foi apenas o passo mais ousado e recente por se dar em um golpe de Estado com afronta e desafio direto a Moscou, mais nada que seja muito diferente do que foi feito na "expansão da OTAN para o Leste" e os golpes e cêrco a Antiga Iugoslávia.
Esse projeto toma agora, ou agora revela seu aspecto imperial principalmente a borda do colonialismo francês e da rapina econômica alemã.
Surgem os espaços geopolíticos da "Grande Europa e do Lago do Mediterrâneo" que nada mais é que a tutela de toda Europa e a hegemonia no controle do Mar Mediterrâneo incluindo o Norte da Àfrica pelos interesses da elite plutocrática da UE aliada a interesses anglo-saxões.
Daí a ferrocidade deste núcleo imperialista rumo a Rússia e ao Norte da Àfrica que pretendem como "aéreas periféricas do Império" para assegurar recursos naturais e explorar economicamente a reerguer as potências imperialistas européias em crise e destruir a Rússia em aliança com os anglo-saxões.
Mesmo a fragmentação da região interessa a plutocracia da UE por debilitar ainda mais os Estados nacionais e coloca-los cada vez em posição de maior fragilidade ante seus ditames.

Erdogan procura seu própio "projeto turco", em muito por não querer ser "periferia de ninguém novamente" e neste ponto apesar de aliado aos interesses imperialistas depende da manutenção das posições da Rússia e Irã para manter seus própios intentos.
A "Turquia Expandida" sob base de um neo-otomanismo procura consolidar a nação e para tal lidar com seu grande problema de integridade territorial : o povo curdo. Para tal a "simples idéia" é a conquista, o domínio de todo o Curdistão em suas regiões na Síria e Iraque e assim unificando-os a Turquia com um senso de unidade e duplicidade comuns, ou é isso ou perder as porções territoriais mais ricas em àgua doce e petróleo aonde se ascentam os curdos e esquecer definitivamente o projeto de uma nação autônoma que acabaria cooptada ou pela Rússia ou pelos europeus.
O plano de Erdogan também mira a conquista de regiões do antigo Levante como "território histórico otomano" e como um "espaço vital" que assegure seu projeto de nação forte e poder autônomo.

Os projetos turco e europeu se unem temporariamente em suas ambições contra dois outros projetos imperialistas regionais.

A "Eretz Israel" é um projeto já na semente da ideologia Sionista que trouxe os colonos a região e estabeleceu o moderno Estado de Israel. Na busca de "um espaço vital" que os dê recursos para seu projeto de nação poderosa e na "recuperação do território histórico do antigo Império mítico de Davi e Salomão", os Sionistas avançam sob os póvos àrabes com paciência e frieza estratégica para cumprir a promessa de sua bandeira "um Império do Nilo ao Eufrates".
Engana-se quem acha que os Sionistas querem com isso o genocídio dos póvos àrabes na região que visam ocupar, esta é uma consequência do embate mais buscam mante-los como mão-de-obra para a "elite judaica", este sim o preceito racialista : o domínio judaico sob outros póvos e não o extermínio destes.
Porém mais extermínio se fará pois pretendem atrair a Eretz Israel "todos os judeus do mundo" e para isso terão que expandir e assegurar novas colônias sob antigos territórios àrabes.
O domínio da Eretz Israel também é visto pelos Sionistas e pelo própio Imperialismo norte-americano como o domínio de uma região geoestratégica a nível mundial "a ponte entre três continentes (Àfrica, Àsia e Europa), uma mão forte na região mais rica em petróleo do mundo e o por fim o controle do comércio via domínio do Canal de Suez", e lógico o fim de qualquer possível "unidade àrabe" contra qualquer um dos projetos imperialistas e uma permanente ameaça e contenção ao Irã regionalmente e a presença de qualquer nação Contra-Hegemônica numa das bases da Hegemonia : o petrodólar.

Mais acima de tudo o projeto Sionista se choca com o projeto Turco em disputa as mesmas regiões em torno do Levante.

Mais desistir da Eretz Israel seria o mesmo que desistir do Estado de Israel que foi criado sob o jugo aos póvos àrabes e retroceder daria a estes póvos os meios de exigir de volta todas suas terras saqueadas.

E é contra o projeto turco aliado ao europeu que não vê com bons olhos Suez fora de seu domínio e pelo fator petrodólar com "as bênçãos dos EUA" que o projeto Sionista se alia ao projeto Saudita.

De início os Sauditas buscam recriar sob seu domínio e sob novo paradigma o "Antigo Império Àrabe" se impondo sob as nações que hoje fazem parte da Liga Àrabe, porém dificuldades neste objetivo e o enfrentamento ao projeto europeu no Norte da Àfrica e concessões ao aliado Israel em seu projeto tornam as pretensões Sauditas de início "mais modestas, porém mais urgentes".
Oque os Sauditas procuram de imediato é evitar a fragmentação do país que ocorre por desde o início se formar na opressão da minoria xiita, e são os xiitas que estão ascentados nas "grandes reservas de petróleo" que fazem da Arábia Saudita a potência que é, e sustenta o luxo e a opulência de seus monarcas.
Xiitas estes que se antes tratados a tacão e subjulgados com assistencialismo, hoje se erguem em busca da auto-determinação e da libertação e possuem o apoio e a simpatia de uma outra potência, "uma potência xiita" : O Irã e animados pelas lutas de seus irmãos no Iraque e no Bahrein.
Os xiitas se deram conta que são eles e não os Saud que estão assentados na "maior fonte de petróleo do mundo" que é o Golfo Pérsico e que tais reservas se iniciam na já hoje potência iraniana.
Os xiitas se deram conta que podem controlar a cotação do petróleo no mundo e vencer todos seus inimigos com o "ouro negro" como que enviado dos céus para sua redenção.
E essa perspectiva poria fim ao Regime Saudita.
Daí a estratégia geopolítica que batizo de "Estado Islâmico Saudita" que procuraria submeter toda a região em que vivem póvos xiitas fora do Irã e mescla-los a si com "a identidade islâmica", criando uma "unidade do Islã contra os héreges iranianos" que passa incluso por distanciar xiismo de regime político iraniano.
É um plano arriscado e que ainda trará muito banho de sangue, principalmente sob a minoria xiita mais é a única jogada possível dos Sauditas a sua própia sobrevivência e para tal contam com o apoio dos EUA devido ao petrodólar e sua hostilidade ao Irã e as forças da Contra-Hegemonia e sua aliança atual com o projeto Sionista.

É essa disputa de projetos imperiais que faz a região ferver, influenciados de fora principalmente pelas potências anglo-saxãs.

Uma disputa perigosíssima pois se não bastassem os fatores de integridade territorial são projetos revestidos "de caráter místico-messiânico-profético", todos aí se veem com "o destino natural" de dominar tais respectivos territórios e por ambos os motivos são capazes sim de iniciar uma III Guerra Mundial e levar o mundo ao apocalipse, pois é a existência destes mesmos como "Entidades nacionais, ideológicas e religiosas" que está em jogo e prometem "se vierem seus Últimos Dias carregarão o mundo inteiro a seu Juízo Final".

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